segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Louco

Perguntam-me como me tornei louco.

Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes
de muitos deuses terem nascidos,
despertei de um sono profundo
e notei que todas
as minhas máscaras tinham sido roubadas
- as sete máscaras que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando:

"Ladrões, ladrões, malditos ladrões!"

Homens e mulheres riram de mim
e alguns correram para casa, com medo de mim
E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: "É um louco!".
Olhei para cima, pra vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.
E, como num transe, gritei:

“Benditos, benditos os ladrões
que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança
em minha loucura:
e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

-Khalil Gibran

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